Em “Scuola di Atene”, Rafael Sanzio retrata personagens da Grécia antiga e alguns outros que foram influenciados por eles. Pitágoras, Parmênides, Sócrates, Epicuro, Plotino, Averróis etc. Bem ao centro, Platão e Aristóteles, os dois gigantes da filosofia ocidental. Platão está com os braços postos de tal maneira a ponto de apontar para o alto. Já Aristóteles, em contraste, aponta para o chão. Essa, à maneira de Rafael, é uma referência à Teoria dos Universais e como os dois filósofos enxergavam a existência deles.
Platão desenvolve a sua Teoria das Ideias, cujo Mito da Caverna explica bem, colocando as formas perfeitas em um plano imaterial, distinto do plano material, o Mundo das Formas. Aristóteles, desenvolve o hilemorfismo, com um conceito em posto de matéria, para explicar que esses universais estão aqui. Existem nas coisas embora continuem sendo imateriais.
Essa dualidade platônico-aristotélica me parece perfeita imagem de como um homem deve enxergar o mundo. Pés no chão, cabeça no alto. Ou seja, um homem prático e contemplativo. Realidades terrenas com olhar sobrenatural. Cada atividade humana, cada detalhe vivido deve ser elevado a um outro patamar, a um grau superior. Estamos mergulhados no Ser. Elevar as nossas atividades cotidianas ao nível contemplativo é, portanto, nada mais, nada menos, do que um ato de presença consciente. Enxergar e viver a sustentação no ser em cada situação.
Perceber o aspecto qualitativo do real. Perceber o que a inteligência capta na percepção da realidade. Certamente, não percebemos as quantidades de uma árvore ao percebê-la. E mesmo quando isso acontece, como, por exemplo, quando percebemos a altura de uma árvore, isso se dá de maneira qualitativa. Perceber de maneira consciente é entrar no reino da qualidade e não da quantidade desprovida de “qualia”.
Quando observamos uma cadeia de movimento e circunstâncias, uma realidade humana, por exemplo, o sentido do evento nunca é dado por suas partes individuais, ou pela soma delas. Não. O sentido é o que torna o evento real e não abstrato. A atitude contemplativa consiste, justamente, em perceber esse sentido de maneira consciente. Livra-nos de amarras reducionistas. Enquanto os pés tocam a terra, a cabeça almeja o céu. É uma atitude aristotélica-platônica. Isto é, ser aristotélico para perceber a existência da qualidade e formas nas coisas e platônico para contemplá-las no Ser. Na realidade que as sustenta.
Dessa forma, começamos a mergulhar no Real como um peixe na água. Do ponto de vista espiritual, seremos almas contemplativas. Almas que sentem e percebem o criador em TODAS as realidades criadas. Do ponto de vista humano, almas conscientes e não-entorpecidas. Almas que acompanham o simbolismo do corpo e crescem verticalmente.
Os pés no chão indicam a fuga do idealismo. De vivermos na Segunda Realidade, emprestando um termo de Eric Voegelin. A cabeça no alto nos fornece o equilíbrio para vivermos sob a presença de Deus e, também, na Primeira Realidade.