Na tradição aristotélica-tomista, a concepção de natureza envolve a doutrina das quatro causas. Sem ela, há uma redefinição do que é natural. A causa formal de uma coisa é a sua forma (a sua forma substancial, no caso de substâncias naturais). A causa material é a matéria que assumiu a forma (matéria prima, para substâncias materiais). A causa eficiente é o que trouxe a coisa à existência. A causa final é a finalidade, objetivo ou resultado para o qual a coisa aponta (intrinsecamente, em substâncias naturais, extrinsecamente, em artefatos).
Nas substâncias físicas, a forma não existe exceto na matéria e a matéria nunca existe em si mesma, sem uma forma ou outra. Ademais, a inteligibilidade de uma causa eficiente depende da causa final – esse é o que os escolásticos chamavam de “princípio de finalidade”, ou seja, “todo agente atua para um fim”. Além disso, esses quatro aspectos de uma explicação são irredutíveis. Cada um é um componente necessário para uma explicação completa de qualquer fenômeno natural.
Com o advento da modernidade, os filósofos modernos romperam com essa tradição e, partindo de uma concepção mecanicista da natureza, onde, basicamente, tudo é considerado como um artefato e não como uma substância natural, acabaram negando a causa formal e a causa final da doutrina das quatro causas. Isso resulta em um reducionismo do real à categoria da quantidade e um empobrecimento do conceito de Natureza. Mais ainda, caímos em uma espécie de negação da própria causalidade “à la” Hume.
Na filosofia da ciência contemporânea, entretanto, os filósofos estão retornando às causas perdidas para poder explicar a Natureza. É um retorno ao senso comum. Um retorno ao princípio de finalidade. Se A é a causa eficiente de B, é porque gerar B é a causa final de A, o fim para o qual A aponta. Se A não fosse direcionado dessa forma, não haveria razão para que A gerasse B em vez de algum outro efeito ou nenhum efeito (isto é, Hume poderia triunfar). Essa tese é essencialmente o que os teóricos dos poderes causais como George Molnar, John Heil e U. T. Place estão redescobrindo.
O fim é necessário.