A negação da causa formal, ponto de inflexão no surgimento da modernidade, é, acima de tudo, um ataque direto à razão. Pois quando conhecemos algo, o que é captado pelo intelecto é a essência (ou a forma – causa formal) da coisa. Assim, negar que existem causas formais, que existem essências, é negar a possibilidade de intelecção. É negar a razão.
E, no coração do aborto intencional, essa tênebra que assola a nossa era, está a negação das essências. Veja bem, todo ente corpóreo é um composto de matéria e forma. A forma é justamente o que torna inteligível a matéria. O que faz a coisa ser o que é. E, no caso dos seres humanos, essa composição hilemórfica também está presente. Inclusive, a alma humana é a forma substancial do corpo humano, como já expliquei em outro “post”.
Agora, biologicamente, o nascituro, desde a fecundação, é um ser humano. Isso significa que a essência dele, a natureza dele, a alma (forma substancial) dele é a de um ser humano. Ou seja, é um ser humano. Qualquer outra maneira de se tentar definir um ser humano é confundir acidentes com essência. Isto é, afirmar que você é um ser humano somente quando adquire certos acidentes (atividade cerebral, por exemplo) é confundir o que você é com o que você pode ser.
O rompimento da forma com a matéria, no caso do homem, é a morte. Quando isso é feito por outra pessoa, chamamos isso de assassinato. E é exatamente por esse motivo que o aborto intencional – e também a eutanásia -, em qualquer etapa, é um assassinato. No limite, porém, negar a essência do homem e transferi-la a acidentes é negar a causa formal do homem. E se não existe uma essência humana (além de acidentes), por que existiriam essências?
Ou seja, o assassinato de nascituros, obviamente uma barbárie, é o aborto da razão.