O homem é um animal em tensão. Um ser que vive um conflito interior e busca uma resolução, uma paz de espírito, uma “ataraxia” para ele. Assim, quando isso é alcançado, a sua vida ganha um sentido, mesmo que inconsciente e que não responda à pergunta primordial: o que raios estou fazendo aqui? Ele consegue viver sem se preocupar com a tensão.
Eric Voegelin, na sua obra monumental História das Idéias Políticas, já no primeiro livro, diz que a principal função do “cosmion” político é diminuir essa tensão existencial do homem ao, por meio da “evocação mágica” da comunidade, garantir um lugar significativo em um cosmos (político) bem ordenado, em geral artificialmente.
Entretanto, como já observado por Sócrates e Platão, uma comunidade política não pode existir por muito tempo se não houver um laço espiritual que possibilite a coesão dos seus membros, como, por exemplo, a posse harmoniosa comum (concordi comunione) das coisas que amam, como definido por Santo Agostinho.
E quando a “ataraxia” é rompida (e, se ela é artificialmente construída, ela será), quando o encantamento mágico da comunidade política é quebrado, o conflito interior retorna com maior força e, assim, desolado, o homem vê-se emergido no deserto interior e, sem horizontes, procura incansavelmente por uma nova miragem.
Portanto, para aqueles que encontraram o lugar significativo no cosmos seguindo cegamente as novas medidas, devido – hoje – a uma pandemia, do “cosmion” político, há uma palavra para eles: AGUARDEM.