Todos os projetos seculares da modernidade, socialismo, comunismo, liberalismo, globalismo, cientificismo, progressivismo, política identitária, etc. estão unidos por duas características teológicas. Esses projetos surgiram no seio da civilização cristã com o objetivo de substituí-la. Assim, nesse sentido, são todos apóstatas. Além disso, todos estão embasados em alguma idéia cristã, embora removidos do contexto teológico. E nesse sentido, são todos heréticos.
Portanto, os projetos para a modernidade são essencialmente apóstatas e heréticos. Um autor que estudou a modernidade pela sua faceta herética foi Eric Voegelin. Especificamente, por meio da heresia do gnosticismo. Marcionismo, Albigensianismo, Maniqueísmo, Puritanismo etc.
Para a mentalidade gnóstica, o mal está compenetrado na ordem natural das coisas. É onipresente. E esse mal, percebido além das aparências, somente é acessível por “um eleito”, uma espécie de iniciado que possui a “gnosis”. Esses iniciados lutam contra o mal, vendo-o de maneira maniqueísta, numa luta que somente pode ser travada por eles, os puros. A “gnosis” os salva. E assim, no fim, há uma vitória dos gnósticos. No gnosticismo dentro do contexto teológico, isso implicava na libertação do reino da matéria.
Agora, na modernidade, com a secularização materialista da sociedade, como bem notou Voegelin, a heresia gnóstica não se esvaiu, ela se adaptou. Por exemplo, na salvação gnóstica, há a imanetização do “escathon”; a dessacralização da escatologia. O mal, a visão de iniciados, a “gnosis” etc., todos os aspectos da mentalidade gnóstica são “naturalizados”, adaptados aos contextos em que a heresia está inserida.
Os iniciados são, é claro, os possuidores da “gnosis” cientificista e a luta contra as trevas da anti-ciência é travada com a “iluminação científica”. O “escathon” imantizado é o “reino da ciência”, em que ela é escutada e seguida em todas as esferas públicas. Cientificismo, uma heresia gnóstica.