Há sempre uma idéia inicial. Às vezes, uma proto-idéia, um embrião que precisa de desenvolvimento. Penso eu que a atividade da escrita, sentar e escrever, é a melhor maneira de fecundá-lo. Antes disso, porém, esse broto, nas terras aradas do interior, é maturado, desenvolvido por um longo período, quem sabe até por anos, e aí, quando a caneta vem às mãos, começa a ganhar forma, a se tornar inteligível.
Para mim, a atividade de maturação interior e a de escrever compõem a desenvoltura do ato de pensar. Isso se dá, obviamente, em um processo, desde a origem da proto-idéia, a sua captação pelo espírito, até a forma final, aquilo que dá substância. Esse processo – de escrita – pode ser dito como a procura das palavras certas para formar uma idéia, de tal maneira que nada se tira ou se bota sem se perder a idéia ou a sua forma perfeita.
É justamente nesta atividade que o auge da idéia é formado. É assim que ele ganha esplendor e brilha para ser acessado pela memória a qualquer momento. Portanto, para mim, escrever é pensar. Na intimidade com as palavras, encontro a minha intimidade, o meu palácio interior no qual eu me esbanjo no banquete e, com o cetro dourado em mãos, falo de maneira imponente: – Assim eu sou.
De fato, não é só o pensar que é informado na escrita, mas a personalidade, o caráter, todo o meu ser. Assim, entrelaçado às palavras com um caráter de sustentação, na formação do eu, cumprindo a máxima socrática do ”conhece-te a ti mesmo“, a escrita torna-se necessária. Fundacional. Ser é escrever e escrever é ser.