Que beleza salvará o mundo?


Em O Idiota, romance de Dostoiévski, Ippolit, referindo-se ao príncipe Michkin, protagonista do romance, monologa: “É verdade que o príncipe disse, uma vez, que a beleza salvaria o mundo? Meus senhores – gritou bem alto -, o príncipe afirma que a beleza salvará o mundo! E eu afirmo que quem tem idéias tão jocosas está apaixonado. Meus senhores, o príncipe está apaixonado; mal ele entrou tive a certeza disso. Não core, príncipe, senão ainda tenho pena de si. Que beleza salvará o mundo?”

Frequentemente, ouvimos os dizeres de Dostoiévski sobre a beleza. É possível que, ao nos depararmos com tal frase – a beleza salvará o mundo! -, a indagação de Ippolit se faça nossa; ora, mas que beleza salvará o mundo? É a pergunta fundamental. Dado que vivemos um culto ao horrendo, fazer tal pergunta pode até mesmo ser perigoso. O receio da resposta, ou a sua previsibilidade, causa medo.

O bom e a beleza, em metafísica escolástica, são propriedades transcendentais do ser. E, na realidade, ambos deveriam se identificar. Entretanto, neste mundo decaído, bom e belo não estão necessariamente conectados. Com frequência, chamamos de belo o que não é bom. Isso pode ser evidenciado, por exemplo, na esfera moral. Encontramos rostos bonitos com almas putrefatas. Dorian Gray’s.

Existe uma beleza, porém, que é sempre idêntica ao bom, que cala qualquer um que está diante dela. Quando você está face a face com uma Santa Teresa de Calcutá – na verdade, com qualquer santo -, a única resposta adequada é o silêncio. É aquela mesma resposta que damos quando estamos impressionados com um pôr do sol, talvez num campo entre montanhas, em que a própria noção do tempo se esvai; tudo o que importa é aquele instante contemplativo. O resto… bem, o resto desaparece.

Essa beleza do ser é o cheiro da santidade. Inebria quem a vê (a sente) e transforma quem a vive. Ela é a solução de crises. Como dizia São Josemaría Escrivá, Un secreto, a voces: estas crisis mundiales son crisis de santos.

É a beleza que somente é possível para uma alma apaixonada. Ippolit tinha razão e o príncipe Michkin também. A beleza salvará o mundo.

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