Peter Kreeft, certa vez, disse que “a música é o meio de comunicação mais rico de todos”. Além de algumas reflexões acerca da linguagem, eu gosto de interpretar essa frase de uma maneira “Tolkieniana“, como o próprio Kreeft, em seu livro The Philosophy of Tolkien, explica:
“A linguagem mais poderosa e mágica é a música. A razão para isso é que a música é a linguagem original. A música é a linguagem da criação. No Silmarillion, Deus e Seus anjos cantam o mundo na existência: «No início, Eru, o Único, que na língua élfica se chama Ilúvatar, fez o Ainur de seu pensamento; e eles fizeram uma grande Música diante dele. Nesta Música o Mundo começou»…
Não é que a música estava no mundo, mas o mundo estava na música. Esta é a «música das esferas», na qual tudo é, o «Cântico dos Cânticos» que inclui todas as canções. Toda matéria, espaço, tempo e história estão nesta linguagem primordial…
Música não é poesia ornamentada, e poesia não é prosa ornamentada. Poesia é música decaída e prosa é poesia decaída. A prosa não é a língua original; é poesia tornada prática. Mesmo a poesia não é a língua original; é a música que se fala, são as palavras da música separadas de sua música. No começo era música”.
Ele está se referindo a Ainulindalë, o mito da Criação em Tolkien. A música dos Ainur. Isso me leva a pensar na linguagem como a ponte entre o mundo musical, onde tudo está, e a razão. E também me faz pensar sobre a moderna Teoria das Cordas, que, em algum sentido, metafísico e até mesmo físico, propõe algo que se aproxima de Ainulindalë.
O fato, indubitável, é aquele notado por George Steiner. Há um “Mysterium Tremendum” na música. Um “Mysterium Tremendum”! Muitas vezes, quando o espírito está perturbado, por exemplo, somente alguns minutos de “Cello Suite No. 1”, de Bach, são suficientes para que a pacificação ocorra. Um entorpecimento causado por pura estupefação. “Mysterium Tremendum”.
A música, de fato, tem a capacidade de alcançar os espaços mais recônditos da alma. Talvez, meus caros, isso ocorra por ela ser a linguagem que nos conecta de maneira íntima com a criação. Um verdadeiro “Mysterium Tremendum”.