Há um Lar


Existem dias em que a alma se esconde, adentra um canto escuro do corpo e faz dele uma morada, uma guarida. De lá, escondida e tímida, de vez em quando, por força que lhe é externa, mostra os dentes às coisas que passam. E todas elas, uma a uma, parecem inescapáveis do seu destino fatídico, impossíveis de serem carregadas por qualquer ombro. Ligeiramente, de uma impressão particular, vem uma universal. Tudo está fadado. A existência torna-se um fardo insuperável e a função da alma, “anima”, animar o corpo a que se recolhe, não se manifesta. Não quer se manifestar.

Esses dias, não há escapatória, chegam a qualquer um. Alguns, por temperamento, amplificam a escuridão da guarida, outros, também por temperamento, evitam abrir os olhos. Sendo assim, com essa inevitabilidade essencial, como escapar, ou melhor, como lidar com essa condição existencial?

Ora, com uma virtude teologal. A esperança cristã. É ela, com o auxílio da Graça, que torna suportável o insuportável. E ali, no meio da escuridão que contorna e pesa, espera o inesperado. A mudança repentina de eventos. E assim, de sofrimento existencial a sofrimento existencial, oferecendo cada um deles a Deus, a alma fica ereta, olha para o horizonte e anseia para estar em Casa. Há um Lar.

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