Dataísmo, nada de novo sob o sol


Yuval Noah Harari, em seu artigo On big data, Google and the end of free will, cunhou o termo “dataísmo” para se referir a uma cosmovisão em que o universo seria um “fluxo de dados”. Tudo é dado processado. Os organismos são uma espécie de algoritmos bioquímicos. O chamado da humanidade, para eles, é criar um sistema de processamento de dados universal e, é claro, imergir nele.

Isso significa que, de acordo com o dataísmo, uma sinfonia de Beethoven, uma bolha na bolsa de valores e o vírus chinês 19 são apenas três padrões de fluxo de dados que podem ser analisados usando os mesmos conceitos e ferramentas básicas. Ou seja, tudo, absolutamente tudo é dado que pode ser “processado”.

Bom, além de ser um simples reducionismo da realidade, antes das pessoas estarem rodeadas de “dispositivos”, recebendo e produzindo dados, elas estão presentes no mundo e são inundadas por estímulos, por meio da percepção sensitiva, que precisam ser “processados” (termo dataísta). Os antigos simplesmente chamavam isso de pensar.

Ademais, implicitamente, o dataísmo assume dois princípios falsos. O primeiro é a idéia de que tudo é mensurável, ou seja, mais uma vez estamos entregues ao acidente da quantidade. O segundo é a idéia de que existe uma equação para todas as coisas medidas.

Para o primeiro princípio, além do intelecto, que é imaterial e, portanto, não mensurável, há a própria física. Se a teoria das cordas, por exemplo, for verdadeira, como raios você mensura uma corda, ou uma P-brana?

Já para o segundo princípio, não podemos nos esquecer de que as equações enfocam o mensurável e somente podem aproximar o incomensurável. Ou seja, existem eventos que não podem ser medidos com certeza. Mais uma vez, nossos intelectos, mas também os eventos da mecânica quântica.

Norari e os gurus do Vale do Silício, talvez por se identificarem com algoritmos bioquímicos, já não refletem sobre os princípios do que pregam. Não há nada de novo sob o sol. O dataísmo é simplesmente uma faceta do cientificismo.


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