A vitória do amor


Amor não é um sentimento. Pelo menos não o verdadeiro amor, Ágape (ou Caritas). Quando falamos de amor, é preciso fazer uma distinção entre amor sobrenatural, que é essencial e infinito, e amores naturais, que são acidentais e finitos. C.S. Lewis, em seu livro “Os Quatro Amores”, seguindo a tradição cristã e greco-romana, separa os amores em três naturais (Afeição, Filia e Eros) e um sobrenatural (Ágape ou Caritas).

Ágape é o amor sobrenatural que emana de Deus. O Amor por excelência, que reside na vontade e participa do amor divino. É a resposta adequada a uma pessoa, seja ela divina ou não. É a doação completa de si mesmo, na integridade do ser, a essa pessoa, independente de qualquer característica dela. Esse amor, que deve ser o guia dos outros três amores, é o amor de que todos os Santos falaram.

Todos nós podemos, excetuando casos de patologia, ter a experiência real de Ágape. Por exemplo, em uma situação de paternidade (ou maternidade), penso ser inevitável o impulso de um pai (ou de uma mãe) sacrificar a sua vida pelo filho amado que, digamos, está em alguma situação de risco de morte. Poderia-se argumentar que esse amor não é Ágape, é apenas afeição, portanto um dos amores naturais. Pois bem, se fosse apenas afeição, seria completamente natural e responderia aos instintos naturais, como o de sobrevivência. Porém, a ação de auto-sacrifício é contrária à sobrevivência; é contrária ao instinto. É “antinatural”.

Assim, o tipo de amor que acontece nessa experiência não pode ser apenas afeição. Ele possui um elemento que não está nos amores naturais. Esse elemento é o Ágape. Note bem, um amor que se sacrifica pelo outro. Com esse elemento, não é necessário explicar hierarquias das formas platônicas para se perceber que Eros, em si mesmo, é muito menos nobre que Eros acompanhado de Ágape. Ou qualquer outro amor sobrenatural.

Ágape, como explicou o Papa Bento XVI na primeira parte de “Deus Caritas Est”, eleva Eros e todos os outros amores naturais. Torna-os dignos. Torna-os salvo. A revelação de Ágape, portanto, é a vitória dos amores. O amor venceu. Venceu há dois mil anos em uma Cruz.

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