”Neurononsense”


Durante o doutorado, encontrei o livro Conversation on Mind, Matter, and Mathematics do M. B. Debevoise. O livro traz excertos de uma conversa entre o matemático Alain Connes e o neurocientista Jean-Pierre Changeux. A leitura deste livro foi uma bela perda de tempo. Ambos são matematicistas. O Connes com tendência platônica. Já o Changeux, um nominalista.

Eu li o livro com uma decepção crescente, pois ambos pareciam, a todo momento, reduzir o homem, as qualidades intrinsecamente humanas que nos diferenciam do resto da criação, aquelas em que a vida de uma pessoa é valorada – o amor a Deus, ao próximo, à beleza, à virtude –, a adaptações programadas e explicadas pela neurociência. Isto é, o mistério humano é resolvido pela redução a neurônios, que, por sua vez, é explicado pela matemática.

Isso, essa redução da verticalidade do homem a uma horizontalidade simplória, por acaso, resolve os enigmas filosóficos sobre os fundamentos da matemática? Seus axiomas e métodos? Ou ainda, as interpretações do paradoxo de Banach-Tarski? Dos teoremas de incompletude de Gödel? É óbvio que não. Esse reducionismo, se nos fala algo, é apenas sobre o cérebro. Essa “Neurononsense” não pode nos dizer algo sobre a profundidade do eu, do livre-arbítrio, da beleza, de Deus… Associar idéias a partes do cérebro que se ativam não nos diz nada, nadinha, sobre o que as idéias significam, sobre o que se referem.

No coração da “neurononsense”, está uma confusão na distinção entre os seres vivos e os não vivos. Como bem nos lembra Charles de Koninck, contra a tendência moderna, que começa dos não vivos e sobe até os vivos, nós conhecemos os vivos melhor do que conhecemos os não vivos e, mais ainda, mesmo que inconscientemente, definimos os não vivos por negação dos vivos.

“Experimentamos em nós mesmos que temos uma alma e que ela é uma fonte de vida”. Sabemos que pensamos, desejamos, valoramos, sentimos e nos movemos no corpo e por meio dele, mesmo que, ao pensar, ao inteligir, a atividade em si transcenda o corpo humano. A “neurononsense”, enfim, comete o erro de partir dos minerais para chegar no homem, quando deveria partir do homem para chegar nos minerais. Nonsense.

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