Max Tegmark, cosmólogo suíço e professor do MIT, em 2008, publicou um artigo intitulado “The Mathematical Universe” onde propôs que o universo não é descrito pela matemática, mas que o universo É matemática. Ontologicamente. Tudo é matemática. Existência matemática, para ele, é igual a existência física. Pior ainda, ontológica, espiritual, mental etc. Nós, seres humanos, somos o que ele chama de “substruturas autoconscientes”. Isto é, a matemática descobre a si própria.
Essa visão, sob certos aspectos, é um retorno — filosoficamente pobre — ao pitagorismo (neopitagorismo). Existem, também, outras vertentes. Podemos dar um nome para ela: matematicismo. Isto é, a visão de que TUDO, absolutamente TUDO, pode ser descrito, definido, modelado — em última instância — pela matemática. A realidade (física, mental, espiritual etc.) seria fundamentalmente matemática.
O matematicismo é, obviamente, um reducionismo torpe da realidade. Como o cientificismo, assassina a metafísica. Ou melhor, tenta substituí-la por uma versão empobrecida, porcamente empobrecida, dela. Um dos perigos de se estudar somente matemática e as áreas em que ela se aplica, esquecendo-se de todo o resto, é o matematicismo. A mente corre o risco de ser enfeitiçada pelo canto das sereias, de cair nos esquemas mentais de Pisinoe.
A mente que cai nessa armadilha não enxerga mais o nível elementar da realidade, a sua superfície. Pois bastaria um olhar atento ao real para perceber o mundo corpóreo; o mundo de realidades físicas e materiais. Como a matemática, completamente imaterial, gera a matéria? Que poder causal é esse?
Sem o sentido do real, a mente fica inerme e submersa no profundo sono do idealismo.
Em suas diversas manifestações, o matematicismo possui características gerais. Destaco duas delas. Primeiro, é uma atitude extrema que se manifesta como um racionalismo ou idealismo filosófico; ou como positivismo ou ceticismo. Segundo, por não distinguir os vários níveis do ser, ele se apresenta como universal e unívoco. Não existe distinção entre o quantitativo e o qualitativo.
Todas as variações, também, podem ser divididas em três grandes grupos. O matematicismo pode se apresentar como uma forma de idealismo. Essa atitude peculiar, um hábito antigo da mente, pode ser encontrada em seu estado perfeito em alguns pitagóricos e platônicos, em Descartes, Espinosa e Russell.
Também pode se apresentar como empirismo nas afirmações daqueles que requerem a certeza matemática em todas as ciências. Nesse caso, conceitos ou proposições que não se sujeitam aos procedimentos matemáticos são supersticiosos, conjecturais e não científicos; qualidades ou substâncias não receptivas a instrumentos de medida são consideradas fictícias, místicas ou sobrenaturais. Nesse grupo, Kepler, Galileu e Kelvin são representantes. Na modernidade, a quantidade de representantes para essa apresentação do matematicismo é numerosa. Por fim, ele pode tomar a forma de um positivismo ou positivismo lógico. Aqui, propõe que apenas as coisas redutíveis ou verificadas por procedimentos de análise linguística ou lógica simbólica podem ser qualificadas como científicas.
Obviamente, o matematicismo, em qualquer de suas acepções, assim como o cientificismo, é falso e nubla a razão. Portanto, deve ser combatido. Com a ira da qual escreveu Dylan Thomas.
“Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light”.
Uma resposta para “Matematicismo”
Excelente texto! É interessante o fato de que depois de tomarmos consciência da nossa ignorância, ainda temos uma árdua luta contra essas “armadilhas e feitiços” da nossa mente.
Agora eu começo a entender o que é o matematicismo.