Um dos grandes problemas do nosso tempo é que ele é muito antigo. Completamente antiquado. Há, inclusive, uma transição de antiquaria a antiquaria. Refiro-me, obviamente, às idéias que circulam nele. Não há problema nisso. Ou melhor, não deveria haver problema nisso. Não se as idéias fossem as perenes, pois possuem a característica de serem válidas em qualquer tempo, para qualquer povo. A geração do nosso tempo, porém, apega-se, sempre com ares de novidade, a bobices antigas que não são eternas. O atomismo de Demócrito. O hedonismo de Aristipo de Cirene. O nominalismo, utilitarismo etc. Algumas outras vezes, são velhas heresias. Outras vezes, bobices como o materialismo dialético e uma escatologia, emprestada do cristianismo, tornam efêmero o que é perene. Sempre há uma novidade no ar, não tão nova assim, que costuma se manifestar num movimento social ou numa escola de pensamento.
Essas idéias ressurgem não porque foram estudadas e consideradas verdadeiras. Pelo contrário, porque não foram estudadas e, juntamente, nem as ideias antagônicas que as refutam. Essas idéias denotam a juventude intelectual. São as primeiras coisas pensadas por quem “pensa com os próprios miolos”. O resultado só pode ser um: o objetivo do progresso é aquilo que é efêmero. Por isso, vivemos um progressismo progressista que precisa progredir.
Só há uma solução. Aquela que Chesterton atribuiu à tradição, a democracia dos mortos. Cada um de nós carrega o fardo de uma civilização que nos antecede, que nos quer herdeiros. Para poder honrar e carregar esse fardo, retornar ao perene, democracia dos mortos. Cada um de nós. O antídoto para a antiguidade da modernidade é a antiguidade. Um resgate ao que tornou nobre o espírito do homem. A eternidade descoberta pelos nossos mortos.